RELATO DE UMA MEXICANA
Este texto esta na pagina do Yahoo Brasil e vou copiar, porque relata muito bem o que passou e esta passando com a gente aqui.
http://br.noticias.yahoo.com/s/06052009/48/entretenimento-influenza-humana-deixou-licao-mexicanos.html
O que a gripe Influenza nos deixou
Qua, 06 Mai, 04h26
Por Brenda Sanchez*
A princípio, ninguém pensou que seria um assunto de grande importância. Mas o primeiro aviso de suspensão das aulas, anunciada na noite do dia 23 de abril, tomou de assalto toda a população e causou comoção nos mexicanos. No dia seguinte, uma estranha tranquilidade reinava na Cidade do México, a maior da América Latina. Veja fotos do cotidiano mexicano nos piores dias da pandemia
Algumas crianças aproveitaram o bom tempo para brincar nos parques, mas pouquíssimas usavam os "tapabocas", como chamamos a máscara por aqui. A informação era escassa e contraditória. Se recomendava não cumprimentar ninguém, a não ser com os olhos. Foi complicado assimilar essa nova postura, principalmente ao abordar as pessoas mais próximas. Não podíamos mais demonstrar carinho ou respeito com um beijo no rosto, um aperto de mãos ou um abraço. Nas ruas, soldados distribuiam máscaras a todos, o que nos fazia pensar que a situação era realmente delicada, embora ainda ocultada pelos orgãos oficiais. Decidi ficar em casa e, com alguns bons filmes, passei uma tarde agradável.
No domingo, 26 de abril, o presidente Calderón anunciou na TV, em rede nacional, algo que se pintava como o pior dos cenários. Falou de um vírus praticamente imprevisível e pediu às familias que protejessem seus filhos. Já aos adultos, lhes restava acordar na segunda-feira e ir normalmente ao trabalho, como se nada estivesse acontecendo. Mas a farsa não durou muito tempo.
O terremoto que sacudiu a capital mexicana por volta do meio-dia era o sinal de que o caos chegou para ficar. A ordem das autoridades foi para que permanecêssemos em casa para evitar possíveis contatos com gente infectada. Deveríamos transformar nossos lares em uma fortaleza. A esta hora, conseguir uma máscara já era tarefa praticamente impossível.
Percebi que o pânico havia se instaurado na segunda-feira, quando fui ao mercado comprar alguns suprimentos, afinal não se podia prever por quanto tempo eu e minha família teríamos de ficar enfurnados em casa. Entre as gôndolas, se respirava um odor de morte e as expressões de pânico eram indescritíveis. Pobre daqueles que se atreviam a tossir ou espirrar eles eram apontados por todos e encarados com ódio. Os carrinhos estavam todos transbordando com garrafas de água, comida enlatada, álcool, cloro e outros itens todos aos montes. As filas eram intermináveis; conforme os minutos passavam eu sentia cada vez mais desespero. O calor era intenso e eu estava num espacinho fechado, num lugar perigoso. Eu só queria comprar o necessário para meu jantar daquela noite, mas tive que abortar a missão, porque ficar dentro de qualquer supermercado era insuportável.
Na terça-feira, dia 28 de abril, começaram os confinamentos, a obsessão por manter tudo limpo, por lavar as mãos. Estava atenta a tudo o que se dizia na televisão, rádio e, claro, as informações enviadas pelas agências de notícias via internet. Nunca eu tinha experimentado uma sensação como essa meu maior medo não era que o vírus nos aniquilasse, mas sim o precário atendimento médico prestado pelo governo. Eu me imaginava na fila do hospital: nas horas de espera, sentindo dor, vendo o tempo passar e temendo a possibilidade de ser atendida tarde demais para frear o dano causado pela gripe.
Depois de sete dias entocada, justo ontem vi na TV um testemunho de um pai com seu filho de oito anos. Ambos contraíram o vírus e isso os obrigava a permanecer ilhados num quarto. Eles pareciam estar recuperados, já que tinham tomado antivirais no momento preciso; diziam que aproveitaram os últimos dias para brincar, ver televisão e conversar. O pequeno assegurou estar feliz por ter ficado doente ao mesmo tempo que seu pai e confessou que seu maior desejo era abraçar sua mãe no próximo domingo, quando se comemora o Dia das Mães.
Dizem que depois da tempestade vem a bonança. Finalmente, pude sair à rua, voltar a trabalhar do escritório e já pude notar que por aqui, neste começo de semana, tudo indica que até o ar que respiramos está diferente. Estamos conscientes de que ainda não podemos cantar vitória, mas sabemos que o momento mais crítico já passou.
Embora ainda não possamos ir ao cinema e alguns dos meus restaurantes e bares prediletos estejam fechados, minha casa é de fato o melhor lugar para o refúgio, é o lugar onde posso me encontrar comigo mesmo e com as pessoas que mais amo, pois longe do barullo das ruas é mais fácil alimentar o espírito.
*Brenda Sanchez é jornalista e trabalha como editora no Yahoo! México
A Japanese Brazilian in Mexico
Comentarios da vida de uma brasileira niponica vivendo no Mexico! Quantas diferencas e similaridades entre estas culturas.....
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